ADEMI na Imprensa

Especulação imobiliária da paz

O Dia, Maria Luisa Barros, 31/jan

Uma nova Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) ainda está a caminho do Morro do Borel, a primeira favela beneficiada da Zona Norte. A ocupação de uma das maiores comunidades da Tijuca, onde vivem 20 mil pessoas, está prevista para depois do Carnaval. Quem chegou antes, porém, foram construtoras, corretores e investidores que aproveitam o anúncio do governo para antecipar, e valorizar, a venda de imóveis até em bairros vizinhos como Grajaú. Após anos de depreciação no valor dos imóveis, por causa da violência, moradores da Tijuca sonham com o aquecimento do mercado imobiliário no bairro.

Administradoras de imóveis estimam uma recuperação entre 20% a 50% no preço de casas e apartamentos na região, como em Copacabana, Leme e Botafogo, onde as UPPs foram implantadas. Para a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), a valorização dos imóveis é imediata.

"No início ninguém acreditava na ocupação. Agora, basta o anúncio para a especulação começar. É um chamariz para os corretores aumentaram suas vendas", diz o conselheiro Alfredo Lopes.

Sucesso de vendas

As melhorias à vista fizeram com que o casal Daniel, 28 anos, e Daniele Chermont, 27, desistisse de sair da Tijuca. "Temos um apartamento aqui, mas queríamos ir para a Zona Sul por causa da violência. Mas quando soubemos que uma UPP estava vindo para cá mudamos de ideia e vamos ver apartamento maior por aqui", conta Daniel, que aproveitou o sábado para visitar estandes de lançamento de imóveis.

O empreendimento Spazio Redentore, da MRV Engenharia, já vendeu 80% dos imóveis na Tijuca. Das 360 unidades só restam 70. A mais barata custava R$ 120 mil no lançamento, ano passado. Hoje, um 2 quartos em 58 m2 vale R$ 160 mil. Ex-dono de um imóvel de frente para o Borel, o corretor Francisco Pinheiro, 64, custou a vendê-lo:

"Levei 2 anos para conseguir vender um dois quartos por R$ 70 mil. Se tivesse esperado pela UPP podia ter colocado mais 20% em cima que vendia.

Quem apostou na valorização comemora. Em 2009, o empresário Diogo Barcelos, 54, comprou por R$ 500 mil um apartamento de 130 m2 na Av. Atlântica, assim que soube que os morros do Chapéu Mangueira e Babilônia seriam pacificados.

"A área estava decadente e havia muitos imóveis à venda. Acreditei que a região voltaria a ter o glamour. Comprei pensando em revender. Hoje ele vale R$ 750 mil e não penso mais em sair daqui", diz.

Valor do aluguel quase dobra

Um ano após a ocupação no Morro Santa Marta, moradores de Botafogo sentem os efeitos do aquecimento imobiliário. "Com a pacificação a procura aumenta muito e a oferta de imóveis diminui. A proporção é de 4 pessoas para cada imóvel nas regiões onde a UPP chegou", contabiliza Leandro Claro, gerente da administradora Protel.

Estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP) revela queda de 224 para 203 no roubo de veículos entre 2008 e 2009, em Botafogo. Na Rua Gustavo Sampaio, um apartamento de dois quartos era alugado por R$ 800. Na renovação do contrato, recuperou o preço original de R$ 1.400.

"Muitos alugavam por valor baixo só para não arcar com condomínio. Agora voltou a valer a pena comprar imóveis para investir", aconselha Leandro.

As futuras UPPs

Seis favelas já receberam UPP: Dona Marta, em Botafogo; Batan, em Realengo; Cidade de Deus, em Jacarepaguá; Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme; e Pavão-Pavãozinho, em Copacabana.

A pacificação deve chegar a 35 comunidades. São elas: Vila Vintém, Vila Aliança, Complexo do Alemão, Maré, Rocinha, Vidigal, Antares, Fumacê, Coreia, Vila Kennedy, Parada de Lucas, Vigário Geral, Jacarezinho, Formiga, Salgueiro, Turano, Andaraí, São Carlos, Coroa, Fallet, Cerro-Corá, Jacarezinho, Mangueira, Parque Alegria, Providência, Macacos, Jorge Turco, Cidade Alta, Muquiço, Serrinha, Dendê, Manguinhos, Pedreira, Juramento e Acari-Amarelinho.



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