Hoje na Imprensa

Bolsa cai 2,8% após declaração de Bolsonaro sobre estatais

O Globo, Economia, 11/out

Investidores reagiram mal às declarações de Bolsonaro indicando que a reformada Previdência seria discutida só em 2019 eque a Eletrobras não seria privatizada em seu eventual governo. Analistas viram "choque" com as ideias do guru econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes. O dólar subiu 1,40%, e a Bolsa caiu 2,8%.

O mercado financeiro reagiu ontem negativamente às declarações do candidato Jair Bolsonaro (PSL) e de seus assessores próximos sobre Eletrobras e Petrobras: a Bolsa caiu 2,80%, e o dólar fechou em alta de 1,40%, para R$ 3,764. Em entrevista à Band, na noite de terça-feira, Bolsonaro afirmou que o segmento de geração de energia da Eletrobras não será privatizado - analistas já vinham dando a venda da empresa como certa - e se declarou favorável a conservar o "miolo" da Petrobras. E ainda criticou a política de preços da petrolífera, o que gerou temor de intervencionismo.

Outro fator de decepção para os investidores foi a declaração de Bolsonaro de que a reforma da Previdência poderia ser feita "vagarosamente" e discutida apenas em 2019. Os comentários foram contrários à expectativa do mercado, que vinha apostando na eleição do candidato do PSL justamente por identificá-lo com o compromisso com as reformas e a privatização.

SEM 'VACAS SAGRADAS'

Bolsonaro tem um histórico de posições estatizantes, mas seu guru econômico, Paulo Guedes, segue o pensamento liberal, com defesa de privatizações e ampla reforma da Previdência. Não à toa, no dia seguinte ao segundo turno, em que Bolsonaro apareceu na frente de seu adversário Fernando Haddad (PT), a Bolsa subiu 4,57% e registrou volume financeiro recorde de R$ 29 bilhões.

As ações de estatais puxaram a queda do Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro. Na entrevista de terça-feira, Bolsonaro disse que não venderia os ativos de geração de energia, apenas de distribuição. E, ontem à tarde, Levy Fidelix, presidente do PRTB -partido do candidato a vice, o general Hamilton Mourão -, afirmou que havia acertado com o PSL a venda apenas das áreas de distribuição e refino da Petrobras em um eventual governo.

Bolsonaro disse ainda que "o país não pode ter uma política predatória no preço do combustível para salvar a Petrobras e quebrara economia brasileira".

Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) e preferenciais (PN, sem voto) da estatal recuaram 2,76% e 3,70%, respectivamente - refletindo ainda aqueda de 2,25% do preço do barril do tipo Brent, a US$ 83,09.

Já as ações da Eletrobras despencaram 9,21% (ON) e 8,36% (PN). A maioria das distribuidoras que a estatal se propôs a vender já foi leiloada.

Bolsonaro, na entrevista, disse ser contra vender ativos de energia aos chineses. Os investimentos chineses no país já representam quase 10% da geração de energia no Brasil.

- A China não está comprando no Brasil, está comprando o Brasil. Você vai deixara energia nas mãos do chinês? Supo nhaque você tem um galinheiro no fundo da sua casa e viva dele. Você vende todo dia ovos e algumas galinhas. Quando você privatiza, você não vai ter a garantia no fim de semana de comer um ovo cozido. Vamos deixar a energia na mão de terceiros?

Segundo Glauco Legat, analista-chefe da corretora Spinelli, os investidores "ligaram seu lado mais racional":

- Foi uma decepção entender que aqueles segmentos não podem ser privatizados. Põe em risco o resto do discurso liberal, mostrando que Bolsonaro pode ser, no máximo, um liberal tropical, disposto a fazer adaptações e adotar postura mais populista. Isso coloca em xeque o benefício da dúvida que estão dando a ele.

Para outro gestor, preocupa o fator de o presidenciável considerar que há "vacas sagradas" na privatização.

- O mercado estava comprando o discurso de Paulo Guedes. E, embora as declarações de Bolsonaro não tenham sido muito claras, o que se viu é que houve um choque entre o candidato e seu economista. No caso da Eletrobras, o mercado acha que não deve haver "vaca sagrada", que tudo é passível de privatização, inclusive na área de geração -afirma Maurício Pedrosa, estrategista da gestora Áfira Investimentos.

Ele lembra que ageração de caixa da Eletrobrasé negativa, o que significa que ela "suga" recursos do Tesouro Nacional. Mesmo que o governo queira manter sua soberania, diz, é possível fazer isso mesmo privatizando, como por meio de uma golden share - classe especial de ação que dá direito a veto em algumas áreas. O Estado tem golden share na Embrae rena Vale, que já foram privatizadas.

A realização de lucros (venda de ações para que os investidores embolsem os ganhos dos últimos pregões) e a expectativa dos investidores em relação à divulgação de novas pesquisas eleitorais, à noite, também pressionaram os negócios na Bolsa.

- Aquedaéu mas o made fatores. Tema realização de lucros, expectativa com pesquisas e as declarações do Bolsonaro -avalia Rafael Passos, analista da Guide Investimentos, ressaltando que o mercado "compra" mais o modelo do candidato do PSL.

REFORMA MAIS DEMORADA

Mesmo não tendo tanto peso para a queda das ações, a questão da reforma da Previdência também contribuiu para o mau humor dos investidores. Na avaliação de Luiz Roberto Monteiro, operador de câmbio da corretora Renascença, as declarações do candidato do PSL levaram o mercado a refazer as suas expectativas em relação a um possível governo Bolsonaro:

- Quando o candidato dá declarações sobre privatizações e reforma da Previdência, os investidores, que tinham uma projeção sobre quanto o governo economizaria, começam a refazer suas contas.

Os mais otimistas acreditavam que, se eleito, o ex-capitão do Exército pudesse fazer uma costura política com o presidente Michel Temer para aprovar, ainda este ano, o texto da reforma que está na Câmara dos Deputados. Mas ontem, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), cotado para a Casa Civil num possível governo de Bol sonaro, afirmou que o tema só seria discutido a partir de 1º dej aneiro.

- Manter o texto e aprovar agora evitaria o desgaste político do novo governo - diz Luiz Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, para quem uma nova proposta de reforma não seria aprovada antes de meados de 2019.

Na terça-feira, Bolsonaro afirmou que uma possível tentativa de aprovar uma idade mínima muito avançada (65 anos) seria barrada pela oposição eque esse assunto deve ser tratado "vagarosamente". Ele defendeu o aumento gradual da idade mínima para aposentadoria, mas não deixou claro se a medida seria apenas para o serviço público.

- O comportamento verborrágico de Onyx e as declarações de Bolsonaro são sinais contrários à expectativa dos investidores. O mercado pode cometer um autoengano. Mas ofa toé que a alternativa( Haddad) é ainda menos favorável às reformas. Então, Bolsonaro deve continuar com apoio do setor financeiro-avalia Arnaldo Curvelo, diretor da Ativa Investimentos.



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Matéria impressa a partir do site da Ademi Rio [http://www.ademi.org.br]