Crise habitacional do Brasil passa pela ocupação das regiões centrais das cidades
em Diário do Rio, 16/setembro
A revitalização do Centro do Rio de Janeiro e de outras capitais apontam para uma mudança no eixo da habitação popular no Brasil, que saem das áreas periféricas e sem estrutura adequada, para se concentrarem nas regiões centrais das metrópoles, que, na maioria das vezes, já contam com uma infraestrutura que pode ser aproveitada para integrar construções, transportes, comércios e centenas de novos moradores.
Segundo Fábio Cury, diretor da CEO da Construtora Cury, responsável por lançamentos habitacionais no Centro do Rio, a mudança de perspectiva é amplamente favorável, uma vez que favorece os moradores, reduz a poluição do ar com o encurtamento dos deslocamentos dos transportes e uso de modais não poluentes como bicicletas, além de tornar as cidades mais “resilientes ao crescimento populacional”.
Diante da projeção de forte crescimento populacional nacional, de 194 milhões para 215 milhões em 2050, segundo a ONU Habitat, Cury aponta em artigo publicado no site Metro Quadrado (M²), que o “planejamento urbano atual deve priorizar a habitação de interesse social integrada à toda infraestrutura de transporte”, missão na qual o Brasil falhou até agora.
O CEO da Cury destaca que, historicamente, “os condomínios populares surgiram em bairros desprovidos do adequado sistema de transporte público, assim como do acesso à saúde primária, a instituições de ensino e a opções de lazer”; situação que, atualmente, tende a ser minimizada pelas atualizações dos planos diretores de grandes capitais, segundo o executivo.
Ao apostarem na revitalização de prédios e casas antigas ou construção de unidades habitacionais nas regiões centrais das cidades, os administradores municipais promovem a “location-efficient”, ou seja, o desenvolvimento integrado – reduzindo gastos com transporte, que atrás da moradia, é o custo que mais impacta no orçamento doméstico, de acordo com a última Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Um morador do subúrbio carioca, ao se mudar para o Centro da cidade, pode ganhar o equivalente a 585 dias em 30 anos, por conta do encurtamento dos deslocamento casa-trabalho. O que, além de trazer mais qualidade de vida, diminui em oito toneladas a emissão de poluentes na atmosfera, equivalente à pegada de carbono individual, argumenta o executivo.
Fábio Cury defende que o redirecionamento da matriz habitacional pode resultar ainda na chamada “cidade de 15 minutos”, conceito criado pelo professor franco-colombiano Carlos Moreno, da Universidade de Sorbonne, na França, o qual preconiza a redução do uso de carros e o tempo de deslocamento motorizado para diminuir as emissões de gases do efeito estufa. Isso acontece, segundo Cury, porque esse modelo de planejamento urbano é descentralizado, já que os “bairros concentram as funções sociais básicas para viver e trabalhar – o que melhora sem dúvida o bem-estar da população”, disse o CEO da Cury em seu artigo, acrescentando que outras cidades, como a Paris já fizeram o seu replanejamento urbano baseado no conceito de “cidade de 15 minutos”.
Fábio Cury aponta que, embora o Brasil esteja longe desta realidade, administrações como as de Eduardo Paes (PSD) e Ricardo Nunes (MDB-SP), ao investirem nas regiões centrais das suas capitais chegam a um “ponto de virada”. O que também pode ser percebido nos debates sobre como reduzir o déficit habitacional de 5,9 milhões de lares para manter a sustentabilidade nacional. Questão mais em voga ainda com a realização da COP 30, no Pará.
O CEO da Cury aposta ainda que a ocupação planejada dos centros das capitais pode gerar cidades mais inteligentes, menos poluídas e mais atrativas para investimentos de diversos setores, como a construção civil brasileira que terá a chance de “acelerar a transformação ambiental urbana”.
Por fim, o executivo salienta que os administradores ao alinharem projetos de empreendimentos imobiliários à sustentabilidade podem promover uma descarbonização mais significativa do ambiente urbano – ponto que está sendo debatido como prioritário na agenda global.
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