Com nicho de crédito ‘bombando’, Pátria compra Solis e coloca ‘FIDC na veia’

em O Globo / Capital, 26/novembro

A Pátria Investimentos está comprando 51% da gestora Solis, criada há uma década e especializada em um filão até recentemente pouco sexy, mas que está “bombando”: os FIDCs, os fundos de direitos creditórios. Com mais de R$ 28 bilhões sob gestão, a Solis será incorporada ao balanço do Pátria e vai, de cara, aumentar em cerca de 40% o negócio de crédito da gestora de ativos alternativos.

Antes da transação, o Pátria — como a gestora costuma ser chamada — tinha R$ 272 bilhões em ativos sob gestão.

A transação, cujo valor não foi informado, dará ao Pátria a opção de comprar os 49% restantes da Solis dentro de três anos. Por ora, nada muda: marca, estratégias e time continuam os mesmos, com os sócios-fundadores Delano Macêdo e Ricardo Binelli à frente da operação.

— Os dois estão para os FIDCs como o Elon Musk está para a Tesla! — brinca José Augusto Teixeira, sócio responsável pela área de clientes do Pátria no Brasil. — Da mesma forma que nos consolidamos em áreas como “private equity”, queríamos fortalecer nossa capacidade de originar ativos de crédito de qualidade em escala. A Solis criou uma plataforma que é reflexo de mais de 20 anos de experiência.

Salto

A Solis atua exclusivamente na gestão de FIDCs — fundos que investem em diversos tipos de papéis associados ao crédito, com lastros que vão de recebíveis de maquininhas de cartão a crédito consignado. Em tese, todo crédito que preveja um fluxo de pagamento pode ser transformado em um papel e “empacotado” por fundos dessa categoria. Além dessa flexibilidade, os FIDCs permitem que suas cotas sejam vendidas aos investidores em tranches separadas por tipo de risco.

Até o fim de 2023, só podiam investir em FIDCs investidores qualificados, aqueles com pelo menos R$ 1 milhão em capital financeiro. Mas a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passou a permitir naquele ano que investidores de varejo acessassem a categoria. A Solis foi a primeira a lançar para esse público um “fundo de fundos”, que aplica todo o patrimônio em outras cotas de FIDCs. Hoje, mais de 25% da captação da Solis já se dá via plataformas voltadas ao varejo.

A operação ocorre em momento de pujança para os FIDCs. Eles se tornaram uma alternativa aos bancos para pequenas e médias empresas que precisam de crédito, sobretudo em um cenário de juros elevados e inadimplência alta. Ao mesmo tempo, a Selic elevada torna a Bolsa menos atraente e estimula fundos de investimento a buscarem o “alfa” (rentabilidade acima do mercado) em segmentos como o crédito.

— O mercado entendeu que os FIDCs fazem duas coisas importantes: dão proteção e pulverização ao investidor e proporcionam uma capacidade de adequação única aos tomadores de crédito — conta Delano Macêdo, que, junto com o sócio Ricardo Binelli, já estruturou mais de 230 FIDCs.

Engatinhando

Com isso, os FIDCs registraram captação líquida de R$ 59,1 bilhões e aumentaram seu patrimônio líquido em quase 16% no ano até outubro, sendo um dos destaques de uma indústria de fundos que enfrenta dificuldades em classes como ações e multimercados. Os dados são da Anbima, associação de gestoras. A própria Solis estima terminar o ano com R$ 29 bilhões sob gestão, um avanço de cerca de 40%.

Para as duas companhias, porém, o mercado está apenas engatinhando. Teixeira, do Pátria, estima que o mercado “FIDCável” — ou seja, o que pode ser incorporado aos FIDCs — seja da ordem de R$ 4 trilhões. Hoje, o patrimônio da categoria está pouco acima de R$ 700 bilhões.

— Em algum momento, esperamos que esse mercado se amplie de maneira mais acelerada. Mesmo que os juros caiam, quem “testou” essa alternativa deve voltar em um momento de crescimento econômico mais forte, o que faz a roda girar — diz Ricardo Binelli.

A Solis tem hoje cem funcionários, sendo dois terços em Fortaleza e o restante em São Paulo.


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