Edifício onde Raul Seixas morou em Ipanema será demolido

Quando Raul Seixas escreveu Ouro de Tolo, em 1973, ele abriu um pequeno capítulo da própria vida: “Eu devia estar alegre e satisfeito por morar em Ipanema. Depois de ter passado fome por dois anos aqui na cidade maravilhosa.” Naquele momento, Raul ainda lutava para emplacar sua carreira no Rio. Morava no Edifício Caiçara, na Avenida Epitácio Pessoa, 54, um prédio simpático, de três andares, em estilo art déco, construído em 1949, e tentava, a pé, chegar até o Centro para mostrar suas músicas, acompanhado da banda “Os Panteras”.

Um acervo de fotos inéditas, publicado em 2022, mostra Raul Seixas em frente ao edifício, saindo com sua bicicleta, revelando com clareza a fachada do prédio. O imóvel, agora prestes a desaparecer, foi comprado pela construtora Gafisa e dará lugar a um edifício de luxo, com oito unidades distribuídas em três andares, algumas em duplex. O prédio antigo, que tantas histórias testemunhou, não resistiu à valorização do bairro nem à bonificação de pavimentos extras oferecida pelo programa Reviver Centro. Desde 2023, o processo de demolição já tramitava junto à Prefeitura do Rio.

Ipanema e a metamorfose urbana

O bairro que Raul descreveu em versos continua em constante transformação, e talvez seja aqui que a relação com Metamorfose Ambulante faça sentido. A região vive um movimento intenso: em quatro anos, 34 licenças foram concedidas, sendo 28 apenas para projetos em Ipanema e 6 em Copacabana. A lógica do Reviver Centro permite que construtoras ganhem bônus para erguer até dois pavimentos a mais, fora da regra urbanística. O resultado é a substituição de casas e prédios de meados do século XX por edifícios maiores, com unidades que vão de estúdios de 30 metros quadrados a apartamentos de mais de 100 metros quadrados.