Estúdios de luxo podem custar mais de R$ 1 milhão, com assinaturas de grife, serviços e possível conversão para Airbnb
em O Globo, 16/junho
Tendência é vista em bairros da Zona Sul do Rio, na Barra da Tijuca e, em breve, também no Centro, com o Edifício A Noite, lar da pioneira Rádio Nacional nos anos 1930.
A onda do luxo se espraia pela cidade. O Rio ocupa a segunda posição no ranking nacional de lançamentos de imóveis tanto nesta categoria quanto na de superluxo. Antes reluzente, sobretudo, na Zona Sul, que concentra alguns dos prédios com metros quadrados mais caros do país, e na Barra da Tijuca, conhecida pelas mansões suntuosas, o requinte agora transborda para outras regiões e em versões em miniatura: os estúdios. Do Centro à Zona Oeste, outdoors anunciam novos empreendimentos de alto padrão em espaços reduzidos de edifícios reformados — que passaram por retrofit — ou erguidos recentemente.
De simples, essas moradias outrora chamadas de quitinetes não têm nada. Os compactos da moda vendem vista, localização e praticidade, são associados a escritórios renomados de arquitetura e design e oferecem superestrutura de área de lazer e serviços. Os preços podem passar de R$ 1 milhão.
Esse ponto é passível até de um questionamento, diga-se, técnico. O conceito de luxo e superluxo varia entre corretoras. Há as que consideram que a primeira classificação abrange aposentos de R$ 2 milhões a R$ 4 milhões e, o superluxo, a partir de R$ 4 milhões. Outras estabelecem os limites de R$ 1,5 milhões a R$ 3 milhões para luxo e, acima do último valor, superluxo. Para os estúdios, porém, com preços mais altos do que se costuma imaginar, não restam dúvidas de que parte deles é um luxo só.
Os interessados nesses imóveis têm perfil variado: na lista, há brasileiros moradores do exterior, estrangeiros, abonados turistas regionais que desejam um pouso no Rio e cariocas que prezam por conforto, mobilidade e deslocamento rápido no dia a dia. Existe um quê de estilo de vida na escolha.
O cientista político Bruno Kazuhiro, de 37 anos, está no grupo dos que podem escolher não desperdiçar tempo para chegar ao trabalho. Ele mora há seis meses num estúdio no Glória Del Art Co Living, lançamento da Rua do Russel, na Glória, e leva dez minutos para ir até o escritório, no Centro. O novo bairro do ex-morador de Campo Grande, na Zona Oeste, é um dos mais ricos da cidade em bens preservados e tombados. São mais de 150, além de parques como a Praça Paris e tesouros redescobertos, como a Prainha da Glória.
Com 91 apartamentos, sendo 79 estúdios de 33 a 58 metros quadrados, no edifício onde vive Kazuhiro há wine bar, academia, sala de cinema, duas piscinas, sauna e, no futuro, terá um restaurante japonês.
— Minha atenção era para o que o prédio tem. Cancelei a academia e não pago internet banda larga, porque o edifício já oferece... Comprei para morar, mas não deixa de ser um investimento — diz ele.
O Centro, em breve, também terá sua torre de moradias compactas e luxuosas: será no ilustre Edifício A Noite, lar da pioneira Rádio Nacional nos anos 1930.
— É possível, sim, ter luxo no Centro. Basta ver as grandes cidades do mundo, principalmente na Europa: Barcelona, Londres, Berlim, Paris... No A Noite, estamos fazendo retrofit para ter 447 apartamentos, 75% deles com vista para a Baía de Guanabara, com restaurantes no rooftop e no térreo. Levaremos um padrão diferente a um prédio que estava abandonado — diz José de Albuquerque, CEO da Azo Incorporadora.
Opções nobres evaporam
Arpoador, Copacabana, Ipanema e Leblon atraem estúdios em categorias ainda mais elevadas. Os compradores correm contra o tempo para comprá-los seja pela vista, oferta de experiências ou pelas assinaturas de grife de escritórios de arquitetura e design. Um exemplo é o Canto Rio, onde funcionou o Bingo Arpoador, na Rua Francisco Otaviano: o empreendimento leva a marca do escritório franco-brasileiro Triptyque e tem paisagismo a cargo do Escritório Burle Marx.
A Zona Sul tem ainda apostas que substituem comércios quase centenários do entorno — o que às vezes é alvo de críticas da vizinhança. Em Copacabana, o Lis se instala onde, por 80 anos, funcionou a floricultura Flora Santa Clara. Da mesma construtora, a Perfomance, a torre Nook, na Rua Hilário de Gouveia, tem estúdios e quartos e sala, com possibilidades de junção de dois apartamentos, criando espaços de até três quartos.
— Há uma mudança no perfil dos moradores das grandes cidades. O número de pessoas vivendo sozinhas ou em famílias pequenas cresce. Por isso, os estúdios se tornaram opção ideal para jovens profissionais, estudantes e idosos que buscam praticidade e bem-estar em locais centrais — diz Carolina Lindner, diretora comercial da Performance.
Na Rua Prudente de Morais, pertinho do “quadrilátero do charme” de Ipanema, o antigo Hotel Everest virou Ipa. Por lá, para adquirir um quarto e sala luxuoso, é preciso desembolsar pelo menos R$ 1,6 milhão, dependendo da metragem e da vista, que pode ser para os Dois Irmãos, para a Lagoa ou para o Cristo. As opções de 39 metros quadrados esgotaram. Restam apartamentos de 45 e de 85 metros quadrados, além dos Up Gardens (moradias com jardim privativo, normalmente unidades térreas).
Além de localização em áreas nobres, as experiências que os condomínios proporcionam são alvo. Exemplo disso é o Arte Wave Surf Residences, na Barra, que terá a primeira piscina de surfe indoor do Rio.
— As pessoas procuram apartamentos menores e com bastante serviço. O Ipa, por exemplo, tem uma academia com vista panorâmica, 360 graus — diz Jorge de Paiva, fundador da corretora De Paiva Realestate com o sócio Paulo de Paiva.
Carlos Eduardo Valente de Oliveira, da Construtora Valente, lançará este mês o Oriá, na Rua da Glória. Assim como no Glória Del Art, um documento autoriza o aluguel por temporada. A estratégia faz edifícios com esse perfil se destacarem em meio às polêmicas com vizinhos contrários à locação temporária.
— A convenção de condomínio foi registrada. Os proprietários vão poder alugar por Airbnb ou outras plataformas. Todos que compraram o apartamento tiveram acesso a essa informação — frisa.
Opções do Centro à Zona Oeste
Edifício A Noite - Unidades de 30 m² a 48 m², incluindo 23 duplex exclusivos. Vistas da Baía de Guanabara e do Museu do Amanhã, no Centro.
Glória Del Art - Dois edifícios com 91 apartamentos, na Rua do Russel 426, na Glória.
Ipa Studios Design - Prédio com piscina com vista para o mar, além de sauna, bar, academia e spa. Fica na esquina das ruas Maria Quitéria e Prudente de Morais, em Ipanema.
Nook - Torre com 47 unidades de apartamentos tipo garden, estúdio e cobertura, de 40 m² a 155 m². Rua Hilário de Gouveia 49, Copacabana.
Lis - Prédio com estúdios, sala e quarto, coberturas duplex, lineares e mais. Rua Santa Clara 127, Copacabana.
Canto Rio - Imóveis com metragens que variam de 36 m² a 109 m². Rua Francisco Otaviano 35, Arpoador.
Arte Wave Surf Residences - Primeiro condomínio com piscina de surfe indoor, no bairro planejado Cidade Arte, na Barra.
Parque Sustentável da Gávea - prédio com 290 unidades residenciais e 27 lojas. Os apartamentos tem de 30 m² até 125 m². Rua Marquês de São Vicente, na Gávea.
Villa Mozak Leblon - apartamentos de 34 m² e 68 m². Endereço: General Venâncio Flores.
Vogue Square Studios - Design Hotel com assinatura de Lenny Niemeyer. Avenida das Américas 8.585, Barra.
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