Ao contrário do que dizem alguns gestores de fundos e bancos, a compra do primeiro imóvel segue como um objetivo concreto para uma parcela significativa dos cariocas. Segundo uma pesquisa nacional realizada pela imobiliária on-line Loft, o Rio de Janeiro aparece entre as capitais com maior intenção declarada de aquisição do primeiro imóvel em 2026, ao lado de São Paulo, com 57% dos entrevistados manifestando esse plano.
O levantamento, citado em matéria do portal Metro Quadrado, conduzido ao longo de 2025, avaliou a disposição de brasileiros de diferentes faixas etárias e classes sociais em relação à compra do primeiro imóvel, num contexto ainda marcado por juros elevados e cautela econômica.
No caso do Rio, o dado chama atenção por reforçar uma característica histórica da cidade: apesar das dificuldades estruturais do mercado imobiliário, da pressão de preços em determinadas regiões e da informalidade habitacional persistente, o desejo pela casa própria permanece forte — sobretudo entre os mais jovens, justo aqueles que o mercado financeiro fica dizendo que querem distância de tijolo, pedra e cal.
De acordo com a pesquisa, a intenção de compra é maior entre brasileiros de 18 a 34 anos, faixa etária que concentra uma parcela relevante da população economicamente ativa do Rio de Janeiro. O resultado contraria a percepção de que as novas gerações teriam abandonado o projeto do imóvel próprio em favor de maior mobilidade ou do aluguel permanente.
Outro aspecto relevante para o cenário carioca é o recorte por classe social. A intenção de compra do primeiro imóvel é mais elevada entre as classes C, D e E, justamente aquelas mais dependentes de financiamento e de políticas públicas de acesso à moradia. No Rio, esse dado dialoga diretamente com a expansão de empreendimentos de menor metragem, os bem sucedidos projetos de retrofit no Centro do Rio, os mega lançamentos de 2 e 3 quartos do Porto Maravilha e a reocupação gradual de áreas antes esvaziadas da cidade, como trechos de Bonsucesso e Avenida Brasil, agora incentivados pela Prefeitura.
Já entre as classes de renda mais alta, a intenção declarada de compra do primeiro imóvel é menor — um comportamento explicado, em grande parte, pelo fato de muitos já possuírem patrimônio imobiliário ou estarem fora do público comprador inicial. No Rio de Janeiro, onde a concentração de imóveis herdados e de segundas residências é significativa, esse padrão se repete. “Daí a quantidade de imóveis para locação em estado ruim de conservação, geralmente heranças, por vezes mais custosas do que a renda familiar é capaz de manter”, explica Lucy Dobbin, superintendente da tradicional Sérgio Castro Imóveis, maior anunciante de imóveis do Rio.
O levantamento também mostra que o interesse pela compra não está restrito ao eixo Rio–São Paulo. Capitais como Goiânia, Porto Alegre e Belo Horizonte apresentam índices elevados de intenção de aquisição. Ainda assim, o Rio se destaca por combinar alta intenção de compra com um mercado urbano complexo, marcado por fortes contrastes territoriais e desafios históricos de habitação.
Para analistas do setor, os dados indicam que, mesmo diante de um cenário econômico exigente, a casa própria continua sendo um projeto central para grande parte dos brasileiros — e dos cariocas em particular. Mais do que uma decisão financeira, trata-se de um movimento ligado à estabilidade, à formação de patrimônio e à permanência na cidade.
No Rio de Janeiro, onde morar sempre foi também uma forma de pertencer, os números sugerem que 2026 pode marcar uma retomada gradual desse desejo — agora mediado por novas tipologias, formatos de financiamento e pela revalorização de áreas urbanas que, por décadas, ficaram à margem do mercado formal.